sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Beber, beber, beber, e não esquecer


Ontem, estava alegremente assistindo esta entrevista quando lembrei de um livro que relemos (aqui, o plural não é para ser mais simpático) todos os anos, pelo menos um trechinho, que começa assim: "o homem é, fundamentalmente, um ser que esquece".
Lembrei, então, que, há meses - acho que desde agosto deste ano. Ou setembro? - venho pensando em escrever sobre o Nick Heidfeld e sua carreira, mas o tempo foi passando, fui perdendo o timing e, agora, embora não tenha esquecido, não quero mais escrever sobre o Heidfeld. Coitado, perdeu para o Raikkönen quando a McLaren precisava de um piloto, perdeu para o Massa quando a Ferrari precisava de um piloto, ganhou uma chance inesperada quando o Kubica se estropiou e a Lotus-Renault (que agora é só Lotus) precisava de um piloto e, de repente, mandaram o cara passear e ele, de novo, perdeu. Desta vez, para o Bruno Senna. Como se não bastasse, vai ficar sem meu texto a seu respeito - e esta deve ser a pior parte para ele.
Acho que, se não escrever sobre o Heidfeld, uma hora eu vou esquecer as palavras que escolhi e que estavam quase todas na minha cabeça. Afinal, qual a verdadeira importância dele para a história da Fórmula-1? Tudo bem, ele era um piloto com apoio da Mercedes, foi campeão de F-3000 com o pé atrás, tinha tudo para ser ele o contratado pelo time de Woking em 2002, mas eles preferiram o Raikkönen que tinha, até então - pasmem -, apenas duas temporadas em monopostos: uma de F-Renault e outra já na F-1, pela Sauber. Dizem que foi o Mika Häkkinen quem soprou na orelha do Ron Dennis, "escolhe o finlandês, ele é melhor que o alemão". E o Nick, que tinha o apoio da Mercedes, ficou mesmo na Sauber. Mas é um piloto perfeitamente esquecível.
E, no meio dessa digressão toda, eu acabei lembrando da primeira e única pole-position do Heidfeld na F-1. Foi no GP da Europa de 2005. Lembro até onde eu estava, com quem assisti e quantas horas eu havia dormido - duas horas e quarenta e três minutos. O Heidfeld fez a pole naquela ocasião, mas não foi esse o principal evento do fim de semana automobilístico. Na verdade, os acontecimentos da corrida ofuscaram o brilho da pole de Nick, alemão, em território alemão. Alguém aí lembra? Eu lembro, e o YouTube ajuda a refrescar a memória e me poupa de ter que relatar a corrida inteira:



Era a última volta! Terrível perder na última volta, mas quem perdeu foi o Raikkönen, não o Heidfeld, é bom lembrar. Nick chegou em segundo, melhor resultado de sua carreira.
Na noite anterior a da corrida, foi realizado o Ultimate Dodô Game, e, embora eu tivesse sido "sorteado" para tomar uma dose de Ypioca várias e várias vezes, eu me lembro muito bem. Ainda acordei para ver o GP com dor na canela. Reagiram mal à minha estrita observação das regras do dodô e eu tomei uma bica na canela. Não esqueci.
Quando terminou a corrida, acho que já não lembrava da bicuda, mas me lembro bem que, depois de acontecer o que acabamos de relembrar com o Raikkönen, meu companheiro de corridas - que, naquele dia, não era meu pai - exclamou, ao ver o Alonso comemorando a vitória: "vai tomar água, Alonso!". Alonso tomou foi é champagne.
Depois desse dia, Heidfeld correu muitas e muitas corridas, mas nunca mais fez uma pole e é difícil que volte a fazer alguma, na medida mesma em que é muito improvável que ele volte a pilotar um carro de F-1 em uma corrida.
Bom, eu sei, eu lembro que da última vez que escrevi algo semelhante sobre um piloto ele arrumou um contrato para correr na semana seguinte, e eu até pensei em mudar a área de atuação profissional e virar o "Pai Renatão Pé Frio". Era um sábado - último sábado do mês de agosto -, dia do treino classificatório para o GP da Bélgica. No dia seguinte, domingo, eu quase não acordei para a corrida - quer dizer, na verdade, acordei, mas atrasado, já estávamos na 13ª volta. E tinha uma música na minha cabeça naquele dia porque, na noite anterior, fomos ver uma banda no Café Piu-Piu, e a banda chamava-se Rockover e eles tocaram "My Sharona", que é realmente genial de tão simples. Na sexta-feira, tínhamos visto um filme em que uns menininhos tinham uma câmera de filmar super bacana e eles cantavam "My Sharona" também, mas não tinham uma banda. "Mamamamama My Sharona... tum tum tá tá, tum, tá, tum, tá... ". Não tinha como não grudar, a canção.
E desde esta época eu queria escrever um texto sobre o Nick Heidfeld. Não escrevi, perdi o timing, não esqueci dele, mas todos vão lembrar que eu escrevi isto logo acima e pensar consigo mesmos: "esse cara se repete muito".
Fato é que eu realmente pensei que ia esquecer o texto, afinal, já faz alguns meses. Quem sabe, se o Heidfeld voltar para a F-1 e perder o lugar para algum outro piloto de novo eu possa ter uma nova chance de redigir as famigeradas linhas que martelam minha cabeça todas as madrugadas - "você tem que escrever o texto sobre o Heidfeld, tem que ver o site tal para comparar o desempenho dele com o do Raikkönen e o do Massa quando foram companheiros de equipe...".
Este texto me cutuca e eu tenho saudades do tempo em que a única coisa que me cutucava de madrugada era a mensagem publicitária da operadora de celular. Aliás, o que esses caras têm na cabeça? Mandar mensagem de madrugada? Enfim...
Mas eu me lembro que, após o GP da Itália, o Nick Heidfeld disse que havia sido "emocionalmente difícil ter assitido o GP do lado de fora do carro". O que me faz lembrar que é emocionalmente difícil lembrar que não assisti aquele GP. Faz falta não ter visto aquela corrida, afinal, houve uma largada incrível do Alonso e uma ultrapassagem do Vettel sobre ele mais incrível ainda, com roda na grama e o escambau.
Vocês lembram?

Um comentário:

  1. Ô Louco. O Hemingway, o Acadêmico Véio, e o de Mattia baixaram em um único texto-terreiro.

    Ass: o acadêmico-elétrico.

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